segunda-feira, novembro 1

Só o chifre humaniza

Não tem jeito mesmo. Só um chifre humaniza um macho, repito aqui o velho mantra da coluna. Daqueles bem parafusados pelo destino em nossas testas lisas. Nem que seja apenas como arma de vingança, como reza a lírica do cancioneiro de Carlos Alexandre, o grande do brega. Um chifre daqueles que nos faz furar o LP com Stephanie Says, do Velvet, ou nos põe como a última das criaturas, ao sentir as batidas dos pingos da tempestade contra a vidraça. Aí entra Tom Waits, que gorjeia This One’s from the Heart, aquela do fundo coração, o filme de Francis Ford Coppola. Posso tocar mais uma da fita O Fino do Corno, que acabo de gravar aqui no velho cassete das antigas? Então lá vai, lá vai, roda, segura aí, peça logo outra cerveja: Les Amours Perdues, do canalha-do-bem Serge Gainsbourg. Essa é para chorar, como convém a quem deixou rastros de incompetência e de vacilos sentimentais pelo caminho. Chifre posto, lá estamos nós, répteis do amor (agora entra Por que me Arrasto aos teus Pés, do rei Roberto, para coroar a breguice dos humilhados e ofendidos), carentes como um poodle. E essa nossa loucura, muitas vezes, não deve ser tributada simplesmente à febre amorosa que estoura na pele e mancha o caroço dos olhos. Enlouquecemos mais pelo ego de macho, que não suporta uma “literatura comparada”, uma derrota, do que pelo grande amor de fato. É o medo do cabrón diante das comparações. Tudo que queremos saber é apenas se o adversário, a quem sempre vemos, de imediato, como o Pelé do tantra, o Cassius Clay do priapismo, é mesmo o tampa-de-Crush, a bala que matou Kennedy, o tal da química de pele, o cão do terceiro livro… Aí insistimos, insistimos, insistimos na nossa babaquice, até que ouvimos mesmo, daquela ingrata, que perdemos o embate, o jogo, o clássico do sobe-e-desce, o decisivo mata-a-mata nesse faroeste empoeirado dos nossos inconscientes. A literatura comparada é o golpe fatal. E que gazela perderia a chance, diante da pergunta do imbecil, de empurrar o sujeito para o abismo?! Aí não tem cachaça ou uísque que curem. É o fim. O mais confiante dos homens sucumbe nessas horas. E se a moça, toda saltitante, aparecer na firma com aquele sorriso franco, aquela pele remoçada… Nunca vamos imaginar que possa ter sido apenas uma combinação perfeita entre o Prozac e o creme de vitamina C + coenzina Q10, obra e graça da renovadora indústria coméstica! Sempre pensaremos no desastre-mor, no grito selvagem (dela) de prazer. Sempre achamos que a desgraçada, a miserável, descobriu, finalmente, todos aqueles multiorgasmos fresquinhos anunciados toda semana pela revista Nova. A capa da Nova é a primeira imagem que temos. A perua toda feliz com a carga elétrica de 220 wolts que recebeu do velho urso.assim mesmo. Pois a vida é simples e sempre vai imitar aquela singela crônica de Rubem Braga. Lá para as tantas, uma tal de Joana entra no carro de um palhaço, toda aconchegada a ele, meio tonta de uísque, vai para o apartamento do monstro – um imbecil que não sabe uma só palavra de esperanto. A vida é triste, Sizenando, conclui o escriba, a quem agora fazemos coro. E no toca fita do meu carro, como canta agora Bartô Galeno, uma canção me faz lembrar você…& Modinhas de fêmea

Somente a solidão, essa pantera, foi minha companheira inseparável. Dá-lhe Augusto dos Anjos, nosso primeiro punk metafísico, aqui em socorro dos solitários de saco cheio com o massacre publicitário que sofreram por causa do meloso dia dos pombinhos.

E haja celulares de regalo, com horas e horas para falar de “graça”, créditos para um bom pé-na-bunda, como diz a amiga Cynthia, créditos para o chá-de-sumiço dos homens frouxos que não têm sequer a decência de uma despedida de corpo presente.

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